(Portal Estação Armênia) O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), embarcou na sexta-feira (28) com uma comitiva de deputados em uma viagem oficial ao Azerbaijão, um dos países que tem a economia agarrada aos recursos energéticos provenientes do petróleo e dos combustíveis fósseis. O retorno do grupo ao Brasil está previsto para quinta-feira (3). Esta será a primeira viagem internacional de Maia desde que ele assumiu a presidência da Câmara, em 14 de julho e a Câmara não informou o custo da viagem.
Pouco antes de assumir a presidência da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia juntamente com seu pai, o vereador pelo Rio de Janeiro na ocasião, Cesar Maia, surpreendentemente declararam apoio oficial ao ataque covarde das forças armadas do Azerbaijão contra a população armênia em Artsakh, que ocorreu durante 4 dias no mês de abril deste ano, no que quase reacendeu a conflito de Nagorno-Karabagh, que tem um cessar-fogo estabelecido entre a Armênia e o Azerbaijão desde 1994.
A região de Nagorno-Karabakh é um enclave que fica na fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão. Ao fim da União Soviética, a população majoritariamente armênia de Nagorno-Karabagh reivindicou independência Um referendo foi realizado em 1991 com a maioria dos votantes escolhendo a independência, mas o resultado nunca foi aceito pelo governo autoritário do Azerbaijão, que continua infringindo o cessar-fogo diariamente por meio de atiradores de elite na região fronteiriça.
Durante a estada da comitiva brasileira, está programada uma visita ao túmulo do ditador Heydar Aliyev, ex-presidente do Azerbaijão e pai do atual presidente Ilham Aliyev. Junto com Rodrigo Maia, mais cinco deputados estarão presentes à visita: Rogério Rosso (PSD-DF), Rubens Bueno (PPS-PR), Heráclito Fortes (PSB-PI), José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Questionado pelo Site do Jornal Floripa, na quarta (27), sobre os motivos da viagem, Maia justificou a agenda internacional por ter “boa relação” com o Azerbaijão o que o fez aceitar o convite do presidente da República, Ilham Aliyev, no poder desde 2003. “[Viajo] para o Azerbaijão. [Será em] visita oficial em um país com o qual tenho uma boa relação. Recebi um convite oficial do presidente da República e vou fazer a visita”, afirmou na ocasião o presidente da Câmara, acrescentando que o país é “fortíssimo no mercado de óleo e gás. É um país interessante”.
Mas quem pensa que tudo isso é por acaso, listamos abaixo um histórico da agressiva conduta azerbaijana contra os armênios no mundo todo:
- Em 2012 enquanto o tema da Pré-Sal gerava uma discussão intensa no Brasil todo, o governo do Azerbaijão, um país petrolífero e ligado aos petrodólares das transnacionais globalizadas, abria sua embaixada em Brasília.
- Em fevereiro de 2013, durante a Conferência de Segurança de Munique o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Elmar Mammadyarov, manteve encontro com então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota. Era o início do aprofundamento das relações entre os dois países que desde os anos de 1990 eram exclusivamente protocolares e comerciais.
- Em 2013 a Embaixada do Azerbaijão, iniciou um trabalho ostensivo no congresso brasileiro para ampliar as relações comerciais e políticas com o Brasil. O partido escolhido para trabalhar para o governo de Baku foi o Democratas mais conhecido como DEM.
Desde então as trocas bilaterais multiplicaram 5 vezes e semanas depois da formação do grupo de amizade interparlamentar Brasil – Azerbaijão, formado majoritariamente pelos parlamentares brasileiros do DEM, o governo do Azerbaijão formaliza a compra de uma série de aviões da EMBRAER em um negócio de mais de U$ 300 milhões.
Até ai nenhuma novidade e nenhum problema. Comércio bilateral e relações internacionais são o ambiente normal da diplomacia.
Ocorre que meses depois parlamentares brasileiros são convidados a conhecer Baku, capital do Azerbaijão e participar de uma infinidade de congressos e reuniões bancadas pela cleptocracia de Ilham Aliyev, ditador do país.
Logo os interesses dos azerbaijanos ficavam claros e se mostravam para além do que tinha se visto até então. Uma ofensiva azerbaijana na América do Sul estava em curso, principalmente no Brasil, como denunciou o Estação Armênia em editorial publicado em agosto de 2013 (releia).
Deputados brasileiros como Nelson Pelegrino – PT / BA e Claudio Cajado – DEM / BA apresentam moções na comissão de relações exteriores da Câmara Federal para que o Brasil assuma a defesa da ditadura Aliyev e passe a pressionar a Armênia visando roubar as terras armênias de Nagorno-Karabakh (relembre aqui).
Cabe lembrar que a Embaixada Armênia em Brasília e o CNA-Brasil em São Paulo fizeram todos os esforços para evitar essa situação naquele período contando com apoio dos então deputados paulistas Arnaldo Jardim e Walter Feldman que ponderaram sobre a amizade que o Brasil mantinha também com a Armênia.
Mas a carga política azerbaijana continuou e continua. Cesar Maia, vereador do Rio de Janeiro, Claudio Cajado, Deputado Federal e Rodrigo Maia, também Deputado Federal, fizeram declarações infundadas sobre o conflito de Karabakh.
Em uma clara posição parcializada e demonstrando total desconhecimento do assunto eles lançaram nas redes sociais acusações contra a Armênia e Nagorno-Karabakh durante a primeira semana de abril quando o governo azerbaijano lançou uma violenta e covarde ofensiva contra a linha de fronteira de Karabakh.
Em 14 de julho deste ano Rodrigo Maia foi eleito presidente tampão da Câmara dos Deputados na grave crise política que vive o Brasil. Ele ocupará posto até janeiro de 2017.
Foto: Rodrigo Maia